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Value Stream Mapping: como verificar quais atividades não geram valor aos serviços e produtos da sua fazenda?

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Value Stream Mapping: como verificar quais atividades não geram valor aos serviços e produtos da sua fazenda?

Paulo F. Stacchini – Eng. Agrônomo e consultor da COWTECH
Marco Antonio P. Carvalho – Med. Veterinário e consultor da COWTECH.

“Value Stream Mapping” ou VSM, pode ser entendido como o desenho ou mapeamento do fluxo de valor de um determinado processo de fabricação de um produto ou entrega de um serviço. Essa ferramenta faz parte de um conjunto de técnicas que compõe um modelo de gestão denominado LEAN que foi inspirado nas técnicas e conceitos de administração empregados na empresa TOYOTA.

A técnica de VSM consiste em medir o fluxo de materiais, informações e pessoas envolvidas nas diversas etapas de um processo específico. Essa é uma das técnicas que compõe, junto com outros métodos e ferramentas, a filosofia LEAN, um conjunto de ideias por trás do modelo de gestão da Toyota. Então imagino que você deve estar se perguntando, o que LEAN e Toyota tem a ver com fazendas, não é? Tem muito haver. Como nas fábricas e grandes empresas, varias atividades numa fazenda devem estar organizadas na forma de setores. A vantagem de uma maior organização é que a especificidade de atividades costuma gerar eficiência. Amamentar bezerras na sala de ordenha é um atividade específica do setor de recria, que estaria sendo realizada no setor de ordenha. O objetivo fim da ordenha é coletar e armazenar o leite das vacas, enquanto o objetivo fim da recria é alimentar e cuidar dos animais em crescimento. Ainda que parte do leite coletado das vacas seja usado para alimentação das bezerras, fazer as duas atividades juntas é pouco eficiente, na medida que uma piora o rendimento operacional da outra, ou seja, demora-se mais tempo para realizar essas duas operações simultaneamente, que de forma individualizada cada uma. É o mesmo conceito por trás das técnicas de pit-stop na fórmula 1. Antigamente, 2-3 mecânicos faziam todas operações e levavam até 20 minutos para abastecer e trocar os pneus de um carro de corrida. Atualmente, em menos de 3 segundos, em torno de 12-15 mecânicos fazem tudo. Por que? Porque foram estudadas cada uma das etapas envolvidas no pit-stop e continuamente se pensa em como reduzir o tempo para realizar cada uma delas. Simultaneamente, treina-se exaustivamente cada uma delas de forma a atingir-se a perfeição e evitar improvisos e erros durante uma corrida. Numa fazenda há inúmeras atividades que são desenvolvidas. Agrupar aquelas que são inter-relacionadas ao mesmo fim e estudar cada etapa envolvida é importante quando se pensa em ganhar eficiência, reduzir desperdícios, aperfeiçoar processos. Mas o que difere essa técnica sob a abordagem da filosofia LEAN é que, enquanto em muitas empresas o foco é em melhorar a eficiência das etapas que geram valor, na filosofia LEAN, muito é dedicado a reduzir as etapas que não geram valor.

Vejamos um exemplo bem comum em fazendas de leite: o processo de alimentação das vacas. Esse processo é constituído de várias etapas, que incluem desde a definição dos alimentos e formulação das dietas pelo nutricionista até a distribuição uniforme e correta dos alimentos no cocho ou pista de alimentação das vacas. Nesse "trajeto", entre a dieta formulada no papel e a efetiva distribuição da mesma aos animais há uma série de etapas. Algumas de fato adicionam valor ao processo como a pesagem, carregamento, mistura e distribuição dos alimentos. Muito enfoque é dado a formulação da dieta porque dietas equilibradas são fundamentais para garantir uma produção adequada de leite com custos também compatíveis (a alimentação chega a representar até 50% do custo total da atividade leiteira). Mas a dieta só no papel não agrega valor algum. Sendo assim, pesar os alimentos (ingredientes), carregá-los no vagão misturador, aguardar a correta mistura deles e distribuir na pista de alimentação sim agregam valor no processo, cujo objetivo fim é disponibilizar dietas equilibradas, uniformes e em quantidade correta e no tempo certo para cada lote de animais. Mas o transporte e deslocamento de alimentos à balança do misturador, o deslocamento do conjunto trator-vagão até cada depósito de alimento e até cada lote de animais, descer e subir do trator para abrir e fechar porteiras, realização de manobras, são etapas que não adicionam valor em si. Como a visão tradicional costuma focar nas etapas que adicionam valor, muita ênfase se dá nas máquinas e equipamentos, como vagões mais robustos e maiores, com sistemas de pesagem mais sofisticados, componentes de mistura mais eficientes, geralmente são pensados como a solução ideal para ganhos de eficiência. Mas o que adianta uma dieta formulada com 4 casas decimais e perfil de aminoácidos finamente ajustada e um vagão misturador de última geração e grande capacidade de volume, se o trajeto dos silos e depósitos de alimentos for de difícil acesso e trafego, distantes um do outro, se existirem no trajeto 3-4 porteiras obrigando o operador a parar, descer do trator, abrir a porteira, subir no trator, passar com o trator, descer novamente, fechar a porteira, subir novamente no trator, ou se o sistema de carregamento dos alimentos for complicado, exigindo também deslocamento excessivo, carregamento manual, ou mais 2 ou 3 máquinas? São exatamente nas etapas que não adicionam valor diretamente que, normalmente, concentram-se os desperdícios. Então desenhando o processo global, etapa por etapa, com seu fluxo de material e informações necessárias para a realização da mesma permite verificar onde estão de fato os gargalos e desperdícios nas operações que compõe o processo todo. Em várias fazendas que visitamos eu me surpreendo com o número excessivo de lotes/agrupamentos e dietas específicas. Sem dúvida que do ponto de vista técnico-acadêmico, quanto mais individualizada for uma dieta, a ponto de cada vaca receber uma alimentação específica para seu peso, ordem de lactação, produção, dias em lactação, seria o ideal. Mas do ponto de vista operacional, seria inviável tal medida, pois implicaria em excessivos deslocamentos de pessoas e equipamentos. Por outro lado, quando se pode simplificar tarefas e etapas, isso deve ser pensado, pois um novo lote, uma nova dieta, ou um trato/refeição a mais, vai requerer uma série de sub-tarefas envolvidas que consomem tempo. E as vezes esse tempo pode estar sendo "roubado" de outras atividades importantes na alimentação, como monitorar as sobras criteriosamente, corrigir a programação das dietas e formulações de acordo com a variação da umidade das forragens, manter os agrupamentos de acordo com os critérios pré-estabelecidos, manter a conservação dos depósitos e silos, entre outras. Pense nisso toda vez que vir a sua mente a necessidade de trocar um equipamento e pergunte-se: "será que já estou aproveitando ao máximo os recursos do meu atual equipamento?" "Será que tem etapas no processo que podem ser aperfeiçoadas para reduzir desperdícios com um investimento muito menor?". Você só saberá responder isso se estiver junto dos seus colaboradores, sentindo as dores que eles sentem e ajudando-os e estimulando-os a pensar de uma forma que facilite, simplifique e combata desperdícios. Não será atrás do notebook e de formulações de dietas refinadas ao extremo com 15 ingredientes e mais uns 4-5 aditivos, pode ter certeza.